Vivências em Biblioterapia – práticas do cuidado através da literatura

“Comecei a observar que cada pessoa é como se fosse um livro: várias histórias emaranhadas em busca de expressão, um conteúdo à espera de ser desvelado."
 
“(...) Nossa emoção é como a água: impossível conter. Pode-se encontrar um meio para canalizá-la. Parece suave, mas é de uma força avassaladora. É preciso vasculhar nossos subsolos, porões, cantos onde armazenamos o que socialmente não pode ser dito ou feito.”

Até agora, o que tenho feito a cada publicação foi escrever uma pequena resenha de livros que li por indicação na terapia ou livros que, por alguma circunstância, li com um olhar mais aguçado de quem está sendo submetido, há bastante tempo, pelo tratamento terapêutico através dos livros.

O objetivo deste blog é justamente indicar leituras que dialogaram comigo durante o percurso pela biblioterapia e que, eventualmente, possam estabelecer a mesma conexão com outros leitores e ajudá-los a refletir e a recriar a narrativa de suas próprias histórias.

Por esse motivo, eu não podia deixar de sugerir neste espaço o livro Vivências em Biblioterapia escrito pela psicóloga e biblioterapeuta Cristiana Seixas. Na obra, a autora expõe sua experiência em usar a literatura no atendimento clínico com seus pacientes como um medicamento para as dores e angústias da alma. “Os livros e as palavras são como os barcos que auxiliarão nas travessias necessárias, seja em mar calmo ou no meio das tempestades."

No meio desta “conversa” entre os pacientes e as leituras recomendadas pela Cris, surgem reflexões, sentimentos e resoluções surpreendentes. Parece até mágica!

“Considero que a literatura potencializa e muito os processos de amadurecimento psíquico e costumo dizer que não trabalho sozinha e sim com uma ‘junta médica’, ou seja, inúmeros escritores que viveram em lugares e épocas diversas e possuem um olhar plural sobre o humano, além da habilidade, sensibilidade e diversidade no uso da linguagem. São mestres nisto. Nise da Silveira, médica psiquiátrica, que revolucionou a forma de tratar da ‘loucura’, relata numa entrevista que ela encontrava na literatura, muito material para ajudar na compreensão dos doentes. Preferia ler Machado de Assis pela décima vez a consultar um maçudo tratado de psiquiatria de fundo cartesiano.”

O livro está repleto de interessantes recortes das leituras feitas e usadas pela autora, de forma que temos a impressão de estarmos fazendo biblioterapia, o que torna a leitura ainda mais prazerosa.

Para demostrar aqui um destes recortes, termino o texto com uma passagem de Clarice Lispector (1998, p.53) citada no livro da Cris Seixas: “Tenho sido a maior dificuldade no meu caminho. É com enorme esforço que consigo me sobrepor a mim mesma. [...] Mas às vezes por uma palavra tua ou por uma palavra lida, de repente tudo se esclarece.”

Comentários

  1. Cris, muito boa a sua sugestão. Lembrei de minhas aulas de filosofia clínica em que o mestre Gustavo Bertoche recomendava ler boa literatura além dos livros da disciplina uma vez que na literatura você vivencia a diversidade humana. Foi muito bom encontrar Cristiana no comentário anterior. Faço das palavras dela as minhas. Beijos.

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  2. Se podemos rever nosso caminho através da leitura é porque o autor já esteve na mesma encruzilhada. A base das angústias é a mesma o que muda é o roteiro, a história de vida

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  3. Gratidão Cris, por dar lume ao meu filho-livro! Gostaria de registrar minha admiração por suas preciosas habilidades: capacidade de síntese, seleção cirúrgica de trechos, fluidez analítica e coragem no parto da escrita. Aliás, agora me ocorre o quanto a palavra "parto" é indicativo do verbo partir, caminhar, seguir e, assim, criar possibilidades de descobrir uma vida nova em si mesma. Sinceros e agradecidos parabéns!

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  4. Resumindo a vida: “Tenho sido a maior dificuldade no meu caminho. É com enorme esforço que consigo me sobrepor a mim mesma. [...] Mas às vezes por uma palavra tua ou por uma palavra lida, de repente tudo se esclarece.” Um beijo enorme, my love.

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